O pacato cotidiano dos moradores de Jaguaruçu, em Minas Gerais, ganhou um contorno diferente. Desde que a professora de Português aposentada, Iole Miranda Castro Duarte, 59 anos, teve a história “Três Choros pela Minha Morte” selecionada pelo Concurso Nacional de Histórias do Revelando os Brasis, a comunidade vive a expectativa de produzir o primeiro vídeo de curta-metragem envolvendo os moradores da cidade. Para o pequeno município, composto por 2.910 habitantes, ser protagonista de um roteiro de ficção é uma experiência inclusiva transformadora, ainda mais numa localidade que nunca abrigou nem mesmo um cinema.
Depois de 15 dias de estudos audiovisuais com profissionais do cinema e da comunicação, no Rio de Janeiro, a diretora voltou para casa imbuída pela missão de convocar os moradores para compor a equipe de produção e gravação do vídeo. Uma das ações de mobilização aconteceu na Escola Estadual “Liberato de Castro”, na localidade de Marliéria, onde estudam os alunos de Jaguaraçú que cursam o Ensino Médio. Durante o encontro, pessoas de diferentes idades se empolgaram com a ideia de integrar a equipe do vídeo. Combinando fatos reais e fictícios, o roteiro conta a história de um homem enterrado por engano que consegue escapar do caixão.
Superação
Para a aposentada, a oportunidade de dirigir uma obra audiovisual marca uma superação da sua própria história de vida. Na adolescência, ela precisou de determinação para continuar os estudos, pois a ordem natural das jovens da família era buscar um casamento. Contrariando as perspectivas familiares, Iole rompeu as regras para conquistar um diploma de curso superior. Casada há 32 anos e mãe de três filhas, Iole estudou Língua Portuguesa na Universidade do Trabalho, atual Unileste, em Coronel Fabriciano, e fez pós-graduação na mesma área pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Após dedicar sua vida de trabalho ao magistério, ela se aposentou, mas continua ministrando aulas particulares.
A experiência audiovisual é o mais novo desafio da professora. Iole descobriu o projeto durante seu trabalho voluntário numa atividade de geração de renda promovida pelo Programa Nacional para o Desenvolvimento das Nações Unidas. Uma das técnicas do programa, ao perceber o potencial de contação de histórias dos voluntários, incentivou-os a se inscrever no concurso promovido pelo Revelando os Brasis. Com a seleção, Iole viajou para o Rio de Janeiro (32 anos depois de visitar a cidade pela primeira vez), estudou com profissionais, conheceu brasileiros de várias partes do país e voltou para Jaguaruçu pronta para colocar em prática o que aprendeu nas oficinas. “Acho importante o projeto porque leva cultura para a cidade pequena”, comemorou a professora.