Ao visitar o município de Treze Tílias, em Santa Catarina, um austríaco pode ter a impressão de ainda estar no seu país. Isso porque a cidade brasileira possui várias características em comum com a região de Wildschönau, no estado do Tirol, na Áustria.
Além dos traços arquitetônicos das edificações e das tradições culturais, uma das mais expressivas semelhanças entre os dois lugares é a arte de esculpir em madeira. A tradição e o talento de criar esculturas formam o tema do vídeo “Arte: Vida em Troncos”, da diretora Keila Zanatto. A obra audiovisual, em fase de finalização, é resultado da quarta edição do Revelando os Brasis.
História – A ligação entre os países começou em 1933, quando um grupo de 82 austríacos, liderados pelo Ministro da Agricultura da Áustria, Andreas Thaler, deixou a Europa para fundar uma colônia no sul do Brasil. Nos primeiros anos, as famílias se dedicaram à lavoura para sobreviverem na nova terra e começaram a construir uma cidade que lembrasse o lugar de origem abandonado pelos imigrantes em decorrência da guerra.
Nesta época, a atividade de esculpir em madeira era desenvolvida nos momentos de lazer e descontração. Ao longo dos anos, a arte passou a ser ensinada de pai para filho, tornando-se um ofício de várias famílias e uma riqueza turística do município. Atualmente, esculturas de todos os tamanhos, desde miniaturas a obras gigantes, elaboradas em diferentes estilos, alcançam reconhecimento internacional. Treze Tílias é considerada a capital catarinense dos escultores e esculturas em madeira e conhecida como o Tirol Brasileiro.
Gravação e edição – O documentário resgata a história de formação da cidade com foco na paixão dos trezetilienses descendentes pela arte da escultura em madeira. Para mostrar a dedicação ao ofício, a diretora reuniu imagens de escultores com idade entre cinco aos 70 anos. O vídeo revela ainda o processo de criação de uma escultura como a escolha da matéria prima correta e como evitar rachaduras na peça artesanalmente trabalhada.
Um dos objetivos da diretora é levar informações e mostrar o trabalho da escultura para a própria cidade, pois muitos moradores desconhecem de forma mais profunda como os escultores da comunidade desenvolvem a sua arte.
Para Keila, um dos aspectos positivos das gravações foi a desenvoltura dos personagens. “Durante os depoimentos, os escultores se expressaram muito bem”, conta. Ela ressaltou ainda a cooperação entre produção, direção e profissionais de filmagem, o que possibilitou a troca de opiniões sobre o melhor ambiente para gravar um depoimento e outro.
Esta foi a primeira experiência audiovisual como diretora. “Reunimos tanto material que na hora de editar doeu o coração ter de cortar cenas e depoimentos”, conta Keila. Com a intenção de não perder esse material, a diretora editou um vídeo maior com duração de 25 minutos para entregar como presente aos personagens. Durante o circuito, no entanto, os espectadores assistirão ao vídeo de 15 minutos, tempo previsto no regulamento do projeto Revelando os Brasis.
A diretora – Keila Zanatto tem 23 anos e estuda jornalismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Itajaí. Como parte do aprendizado acadêmico, já desempenhou todas as funções dentro de um telejornal. Descobriu o projeto Revelando os Brasis ao se deparar com um cartaz pregado num dos murais da faculdade. Aliou o seu desejo de participar de um concurso de histórias – pois gosta muito de produção de texto – e a satisfação de divulgar as riquezas da sua cidade com a oportunidade de produzir um documentário.
A estudante destaca o caráter democrático e de inclusão audiovisual do projeto. “Essa é uma das poucas iniciativas que dá oportunidade para pessoas de pequenas cidades. Imagine, sua história virar um curta?!”. Ao final da edição, ela comentou ter sido uma das melhores experiências da sua vida. “Quando as filmagens terminaram, eu já estava acostumada com o dia a dia das gravações, e acabei sentindo falta. Quero produzir outro vídeo”, revela.