Revelando os Brasis | COSTUREIRA FAZ SEU PRIMEIRO FILME NO REVELANDO OS BRASIS

EDIÇÃO - Ano IV

COSTUREIRA FAZ SEU PRIMEIRO FILME NO REVELANDO OS BRASIS

Hilda tem 63 anos, é costureira e adora escrever poesia. Ela nunca havia pensado na possibilidade de fazer um filme. Incentivada por um amigo, resolveu juntar o gosto por escrever com a chance de contar suas histórias em imagens. Depois de concorrer com centenas de moradores de pequenas cidades, ela foi selecionada pela quarta edição do Revelando os Brasis que a levou para o Rio de Janeiro onde participou de uma oficina de cinema. Agora, a moradora da pequena cidade de Terenos, no Mato Grosso do Sul, acaba de finalizar o seu primeiro filme.

“Enterro” é uma das histórias de Hilda Maria dos Santos, casada com José Sérgio dos Santos, mais conhecido como Dedé Carreiro, e mãe de três filhos. No filme, Hilda, interpretada por uma atriz, estava sozinha com os filhos, pois o marido saíra numa viagem de trabalho. De repente, ela vê por três vezes, no meio da madrugada, uma tocha de fogo cair no chão. Segundo a tradição, algumas pessoas enterram suas economias e, ao morrerem, escolhem alguém para quem enviam sinais que o levam até o tesouro. A personagem conta o que viu para várias pessoas. O conhecido Antônio Pires, na ânsia de ficar rico, escavou, mas não encontrou nada. Hilda, que acreditava ter recebido a encomenda do além, decidiu seguir o sinal da tocha. Escavou por vários metros até achar uma caixa de madeira com muito dinheiro. 
 
Gravação – As filmagens da ficção aconteceram em fevereiro e março. Familiares e vizinhos se distribuíram em diferentes funções. Muitos se envolveram na produção, outros tomaram posição no elenco, enquanto alguns contribuíram com a criação da trilha sonora. Como em todo processo de gravação, precisou um pouco mais de esforço quando a equipe viajou por 50 quilômetros de estrada de terra para filmar as cenas em que é utilizado um carro de boi. Apesar do trabalho árduo, as filmagens foram divertidas e terminaram numa grande festa, envolvendo cerca de 20 pessoas. Para comemorar, foi servido um tacho de pucheiro – um cozido bem temperado de osso, carne, batata e legumes – acompanhado de arroz e salada.  
 
“O filme acabou unindo a família, envolvendo cunhados, sobrinhos, netos e meu marido. Minha mãe, de 82 anos, acompanhou quase todas as gravações. Eu tinha muitas metas e projetos para minha vida, mas eu não esperava fazer um filme”, contou a diretora, entusiasmada com a conquista. Hilda planeja contar os detalhes dos bastidores desta experiência num livro.
 
A diretora – Hilda Maria dos Santos teve nas oficinas do Revelando os Brasis seu primeiro contato direto com a produção cultural. Sua história tem paralelo com um livro que vem escrevendo com suas memórias. O livro conta uma história inspirada em acontecimentos de sua vida nos primeiros anos de casada. Soube do projeto através de um amigo que participou da edição anterior. Por pouco não ficou de fora, deixando pra se inscrever no último dia, pois estava muito atarefada. A história que escreveu foi sua segunda tentativa, não tendo ficado satisfeita com a primeira. Apesar de ser inspirado em sua própria vida, o final fantasioso é uma liberdade criativa. Estava preocupada com as oficinas, temendo não conseguir acompanhar o ritmo dos outros companheiros, mas se surpreendeu consigo mesma, descrevendo a experiência como “uma faculdade”. Sua oficina favorita foi a de direção de arte, a que mais encheu-lhe os olhos, até mesmo por ter relação direta com outra de suas atividades, a costura. Além de poetiza e costureira, Hilda encontra tempo para participar de um curso organizado pelo Movimento das Mulheres Camponesas. Lá, aprende noções de informática e estuda políticas públicas e agroecologia. 

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