Em João Neiva, pequena cidade de colonização italiana, localizada no interior do Espírito Santo, a arte de construir artesanalmente arcos de violinos ganhou o mundo. A exportação do produto para vários países é apenas uma das conquistas deste pequeno município do norte capixaba. A iniciativa veio da inspiração do gaúcho Renato Casara, especializado em restauração de instrumentos musicais – conhecida como luteria. O lutier adotou a cidade para moradia e trabalho e, anos mais tarde, transformou o ofício em projeto social ao preparar jovens da região no aprendizado desta arte e da música. Selecionada pela quarta edição do Revelando os Brasis, a história é contada pelo diretor Robson Vesper no documentário “Do Violão Quebrado ao Ponto de Cultura Trabalharte”.
Há 30 anos, o gaúcho Renato Casara morava com a família em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, quando ganhou um violão quebrado de sua mãe. Na época, o rapaz procurou o lutier Eugênio Colette para consertar o violão e se encantou com a arte de restaurar instrumentos. A partir daí, abandonou a faculdade de Biologia para trabalhar com luteria fora do país. Ao voltar, em 1994, encontrou em João Neiva um lugar para morar e começar uma fábrica de arcos de violino que passaram a ser exportados para Estados Unidos, Japão e países da Europa.
O sucesso do empreendimento motivou Renato Casara a utilizar o que aprendeu no engajamento social. Não encontrando no município pessoas capacitadas para consertar instrumentos e sabendo que essa carência implica diretamente na qualidade do som produzido, desenvolveu uma oficina escola de luteria em João Neiva.
As oficinas para população local começaram, em 2001, sem qualquer apoio financeiro. As ações cresceram e se organizaram através da implantação do Instituto Preservarte e do projeto denominado Trabalharte, transformando-se em um Ponto de Cultura do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura. Hoje, o projeto mantém um curso de construção de instrumentos, além da escola de música onde alunos da cidade têm aulas gratuitas de violino, viola, violão e violoncelo.
Um dos maiores reconhecimentos do trabalho foi o sucesso no Concurso Nacional de Luteria realizado pelo Conservatório de Tatuí, no estado de São Paulo. O primeiro lugar, em 2008, e os quatro primeiros lugares, em 2009, foram conquistados por alunos do Trabalharte por causa da qualidade estética e acústica dos instrumentos produzidos no Espírito Santo. Para reforçar a grandeza da experiência, uma das características do projeto tem sido a multiplicação das ações. Depois de aprenderem o ofício nas aulas sócio-educativas, os jovens montam seus ateliês com o objetivo de construir e restaurar instrumentos de clientes vindos de várias partes do país.
O diretor – Descendente de pomerano, Robson Vesper é um dos jovens formados pela escola de luteria Trabalharte. Ao terminar o ensino médio, ingressou no curso promovido pelo Ponto de Cultura. Os três anos de aprendizado o fizeram escolher o ofício como fonte de trabalho e renda. Hoje, além de cooperar com o Ponto de Cultura, Robson mantém um ateliê através da parceria com o irmão Júlio César Vesper e os amigos Marcos Pandolfi e Paulo Mouta. Juntos, eles desenvolvem trabalhos de restauração e construção de violinos, violas e violoncelos destinados a profissionais de orquestras do Brasil.
No ano passado, ao descobrir por meio da internet o Concurso Nacional de Histórias do Revelando os Brasis, teve a ideia de realizar um documentário para contar a história iniciada por Renato Casara e sua família. Selecionado pelo projeto, Robson partiu para as oficinas no Rio de Janeiro onde se deu o primeiro contato do lutier com audiovisual. Lá, o jovem aprendeu as noções básicas da linguagem do cinema e se empolgou com o contato com outras culturas vindas de diferentes partes do país. As aulas de roteiro e produção foram as que mais o ajudaram: a primeira por ter colocado em ordem ideias e a segunda por ensinar o lado prático da produção audiovisual.
As gravações – De volta ao Espírito Santo, o lutier organizou o ponto para a realização do documentário. As filmagens foram realizadas em apenas um dia de intenso trabalho no período das 8h às 20h. O filme mostra o dia a dia das oficinas e reúne depoimentos do criador do projeto, de seus familiares e dos alunos, revelando como o acesso à arte musical transformou o caminho profissional destes jovens da pequena cidade capixaba. “O documentário será uma forma de divulgar a cultura do estado, mostrando esta diferenciação pouco conhecida pelo restante do país, e de chamar a atenção dos moradores da cidade para que reconheçam esta experiência vivenciada pela comunidade”, destaca Robson Vesper.