Tão importante quanto a imagem é o som de um filme. E o som, no audiovisual, também é uma “imagem”, uma vez que o elemento gerado e capturado já não está mais lá. Assim como a imagem visual, o som é também uma “imagem”, mas acústica. A falta de cuidados com a captação, a edição, o tratamento e a mixagem dos diferentes elementos sonoros pode condenar uma obra audiovisual.
Os autores das histórias do Revelando os Brasis – Ano V receberam dicas valiosas para garantir a qualidade e a força narrativa do som dos filmes que irão produzir em suas cidades após as Oficinas Audiovisuais. As aulas começaram no dia 10 e prosseguirão até 22 de fevereiro, no Centro Cultural da UERJ, no Rio de Janeiro.
Os participantes foram orientados pela professora Virginia Flôres. A profissional começou a carreira no cinema, em 1974, atuando como continuísta e assistente de direção. Hoje é montadora e editora de som. Fez especialização de Edição de Som no National Film Board em 1988.
Em sua filmografia atuando como editora de de som estão obras como “Eu Sei que Vou Te Amar”, “O Quatrilho”, “Carlota Joaquina”, “A Cor do Seu Destino”, “Ele o Boto”, “Tieta do Agreste”, “Baile Perfumado”, “Menino Maluquinho (I e II)”, “Santo Forte”, “Villa-Lobos”, “O Toque do Oboé”, “Separações”, “Dias de Nietzche em Turim”, “Cleópatra”, “Nome Próprio”, “Árido Movie”, “A Erva do Rato”, “Não se Pode Viver Sem Amor”, “A Alegria”, “Noites de Reis”, “Vendo ou Alugo”.
No decorrer da aula, a professora chamou a atenção para o som dos diálogos, o som ambiente e para a trilha musical e demonstrou como estes elementos devem ser capturados. Abordou ainda os tipos de microfones usados, as atividades de edição e de mixagem de som e a importância da escolha adequada e da avaliação sonora das locações. Virginia propôs aos alunos que escolhessem uma cena de seus filmes que considerassem mais difícil de executar do ponto de vista sonoro. A partir daí, juntos, eles passaram a buscar soluções para a execução da cena.
Virgínia buscou transmitir mais conceitos estéticos do que definições técnicas, de forma a preparar os alunos mais objetivamente para dirigir as obras. Segundo a professora, este caminho foi escolhido para que os autores pudessem operar suas escolhas, fazendo com que os projetos não perdessem a subjetividade de cada um.
“Tentamos tratar questões como as perspectivas sonoras, plano de som e até o silêncio. Os sons precisam ser bem capturados, principalmente o dos diálogos. O diretor tem que saber que ele tem o direito de ouvir o que gravou no set de filmagem para exercer o direito de refazer. Os técnicos que vão operar os equipamentos são colaboradores, podem ajudar com uma ou outra ideia, mas o diretor escolhe o que vai utilizar”, orienta Virginia.
De acordo com a professora, um erro comum cometido por quem está começando a gravar um filme relaciona-se aos descuidos com a clareza do som. Um diálogo, por exemplo, precisa ser entendido, não pode estar ininteligível, alerta Virginia. “Além disso, quem grava um filme precisa entender que o áudio e a imagem são intermediados por equipamentos, por recursos tecnológicos que dão amplitude para esta captação, e podem se configurar em defeitos em determinados filmes”, explica.
Outro erro frequente é não observar o barulho do vento durante a captação do som. “Se o diretor não tiver o hábito de ouvir o que está sendo gravado, ele não terá condições de constatar erros na gravação”, alerta.
Segundo Virgínia, muitos autores das histórias acreditam que basta ter uma história para se fazer um filme. “Ao chegarem ao curso percebem que é possível passar emoção através do som ou de um determinado enquadramento”, cita.
O aboio, como é conhecido o canto melancólico e de resistência do vaqueiro, usado para conduzir o gado do pasto até o curral, é um dos elementos da história “Aboio: A Poesia do Vaqueiro, o Lamento das Caatingas”, escrita por Tárcio Araújo, de Lajes, no Rio Grande do Norte. Selecionada pela quinta edição do Revelando os Brasis, a história será transformada em filme após as oficinas em terras cariocas.
“A aula de som me abriu muitos horizontes, me mostrou muitas situações que eu não identificaria sem a ajuda do curso. Agora vou ficar atento aos ruídos e até mesmo em relação ao silêncio, que também fala e tem uma comunicação intrínseca”, comenta Tárcio Araújo.
Ao longo das oficinas, Virginia percebeu um desabrochar dos participantes. “Os autores das histórias mudam a maneira como assistem às obras. Antes de chegar ao curso, eles são espectadores. Depois deste aprendizado, quando descobrem como fazer, eles passam a observar um filme de outro jeito, passam a analisar a obra e a pensar como esta obra foi realizada”, comenta.
Os autores das histórias selecionadas estão recebendo noções básicas sobre as principais etapas de realização de um curta-metragem. Eles serão responsáveis pelo roteiro, a produção e a direção das obras. Após as aulas intensivas, no Rio de Janeiro, retornarão às cidades de origem para gravação dos documentários e ficções, com o acompanhamento de produtoras remuneradas pelo projeto.