A direção de arte é quase uma função onipresente no cinema. O trabalho deste profissional vem antes, durante e depois no processo de elaboração de uma obra audiovisual. É a tradução visual do roteiro. Carrega o conceito e a identidade artística e estabelece a unidade visual do filme. É tudo o que está dentro do quadro.
Inúmeras definições ajudam a construir o trabalho do diretor de arte. Durante a maratona de oficinas do Revelando os Brasis VI, os autores tiveram a oportunidade de estudar os conceitos básicos desta função no cinema com a orientação da diretora de arte Ana Paula Cardoso. O curso foi aberto no dia 14/08 e prosseguirá até domingo 27/08.
Inspirado nas artes plásticas, o diretor de arte define e acompanha a criação dos cenários, do mobiliário, do figurino, da maquiagem, dos objetos e da paleta de cores, construindo a realidade onde estão inseridos os personagens. Cabe também a este profissional, fundamentado nos conhecimentos estéticos, na linguagem visual e na vivência artística, criar a imagem pessoal do personagem ao revelar características emocionais, psicológicas e físicas desta pessoa.
Para formar a atmosfera do filme, antes de montar tal realidade, ele percorre um caminho de descobertas por meio de pesquisa por referências visuais. E, segundo Ana Paula, cada diretor de arte cria seu método, seu processo e suas ferramentais para a elaboração deste conceito.
De acordo com a professora, algumas perguntas precisam ser feitas ao longo desta estrada de desafios. “É um exercício de entender quem o protagonista, qual é o olhar, qual o ponto de vista, qual experiência de olhar queremos proporcionar ao espectador ”, explica.
Com o objetivo de encontrar as essências da história, o diretor de arte pode, por exemplo, elencar uma série de atributos, sentimentos ou qualidades para a definição da identidade visual. Segundo Ana Paula, estes elementos visuais ajudarão a criar as diversas camadas do universo do filme. Porém, este caminho requer um olhar aberto para a possibilidade também de descontrução de modelos e regras.
“É preciso sair da ideia de criar ambientes bonitos e buscar criar possibilidades narrativas”, provoca a professora. Outra dica para quem cuida da direção de arte é utilizar o contraponto, elemento importante para marcar a diferença numa cena ou no conjunto de cenas de uma obra.
Saiba mais sobre a professora – Formada em Cenografia pela Escola de Belas Artes (UFRJ), Ana Paula Cardoso é responsável pela direção de arte e cenografia de oito longas-metragens, dentre eles, “Casa Grande” de Fellipe Barbosa, “Aspirantes” de Ives Rosenfeld, “Avanti Popolo” de Michael Wahrmann, e a cenografia do “Desenrola”, de Rosane Svartman. Fez a direção de arte de mais de 15 curtas-metragens, entre eles “O resto é silêncio”, “Maria, Ana Maria, Mariana”, “Retrato de um Artista com um 38 na mão”, todos dirigidos por Paulo Halm, e o recente “Com os Pés na Cabeça” dirigido por Tiago Scorza. Trabalha também como diretora de arte em publicidade e TV.
Fotos: Ratão Diniz/Instituto Marlin Azul