No infinito espaço entre o nascer e o morrer vive um traço particular de experiências e emoções. A morte traz a dor que, com o tempo, acaba por se abrandar, permitindo viver a saudade e as lembranças. A relação das pessoas com a perda de entes queridos, a forma como reconstroem suas vidas a partir da ausência e a busca pela celebração da memória dos mortos compõem a inspiração para a história “Vida, Saudosas Lembranças”, escrita pelo produtor cultural Luciano Guimarães de Freitas, morador de Águia Branca, no Espírito Santo, selecionado pela quinta edição do Revelando os Brasis. As gravações do filme começaram no domingo (29/07) e prosseguirão até o final da semana.
Luciano é um dos 20 moradores de municípios pequenos selecionados pelo projeto para transformar histórias reais ou inventadas em obras audiovisuais de curta-metragem. Antes das filmagens, ele e os demais selecionados provenientes de diferentes partes do país se prepararam nas oficinas audiovisuais realizadas no Rio de Janeiro. O grupo aprendeu noções básicas sobre roteiro, produção, direção, fotografia, direção de arte, som, além de outras disciplinas.
O Revelando os Brasis promove a democratização do acesso aos meios de produção audiovisual, oferecendo aos moradores das pequenas cidades com até 20 mil habitantes a possibilidade de contar suas próprias histórias através do cinema. Trata-se de um instrumento de registro da memória e da diversidade cultural do país e revela novos olhares sobre o Brasil. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet.
A história – Quando o avô materno do diretor precisou ser internado no hospital, pediu à família que não ficasse triste, não gastasse dinheiro com tratamento porque, depois de ter cumprido sua missão na vida, chegara a hora do descanso eterno. “Cumpri minha missão e estou preparado para partir. Cumpram também a missão de vocês”, disse o avô.
Luciano conta que seu avô faleceu dois dias e no momento da partida não teve dor, apenas cantou de forma serena, enquanto a voz sumia aos poucos. Esta é uma das histórias resgatadas pelo diretor para compor o documentário integrado por depoimentos de familiares, amigos e de outras pessoas da comunidade que vivenciaram a perda de um parente.
“Queremos recuperar estas histórias, entender o universo da saudade e das lembranças, abordar os momentos de alegria e de tristeza, as vivências comuns. A intenção é abordar o vazio da ausência, mas também mostrar que estas pessoas se mantêm vivas na memória, nas canções, nas paisagens e nos ensinamentos deixados para o outro”, explica Luciano. A dualidade entre a vida e a morte sempre despertou a reflexão do diretor. “O filme pretende mostrar a importância das pessoas na vida daquelas que ficam. Elas se foram, mas continuam, a história delas fica”, acrescenta.
O diretor – Luciano Guimarães é produtor cultural com atuação principal na área de difusão audiovisual. Fundou e preside o Cineclube Eco Social Águia Branca, filiado ao Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros. Por meio da aprovação em editais públicos, tem se empenhado no desenvolvimento de ações de incentivo à criação e o fortalecimento de cineclubes.
“Minha vida hoje é o cineclubismo. Ele me dá força, é a minha base. A meta é usar o cinema como ferramenta de formação”, destaca o diretor. Segundo ele, o cineclube local valoriza a produção audiovisual brasileira e, por meio das exibições em escolas, tem atuado na formação do olhar da juventude, buscando estimular os jovens a participarem da construção das políticas municipais.
Esta é a primeira experiência de Luciano como diretor de uma obra audiovisual. O gosto pelo cinema o incentivou a se inscrever na quinta edição do Revelando os Brasis. “Quando a gente começa a assistir aos filmes, vem a vontade de ver uma obra feita por você na tela. Tenho uma grande produção literária, que reúne contos, crônicas e poesias, e queria levar este sentimento para o cinema. Poder participar do projeto é um sonho. Espero incentivar a participação de outros jovens da cidade”, relata Luciano.
Confira o depoimento do diretor gravado durante as Oficinas Audiovisuais, no Rio de Janeiro: