Seu nome é Josemar. Mas também atende como Josemário. Se alguém pergunta pelo sobrenome, ele responde Josemar da Serra, referindo-se ao local onde vive. Ninguém sabe de onde veio e nem como conseguiu se isolar por quase dez anos no meio da Serra Negra da Boa Esperança, no município de Lastro, na Paraíba, sem manter contato com a comunidade local.
Ao ser descoberto, o misterioso homem despertou a curiosidade dos habitantes e um grupo de moradores decidiu subir a serra para saber quem afinal era o forasteiro. Mas o que encontraram foi um homem simples e trabalhador que, sem revelar informações sobre seu passado, conquistou a confiança e o respeito dos sertanejos por seus conhecimentos sobre a cura através do poder medicinal das plantas.
Aos 68 anos, o agricultor mora na serra há 33 anos. Lá, vive do que planta: milho, gerimum, melancia, entre outros alimentos, e dedica seu tempo ao preparo das “garrafadas” utilizadas pelos antigos dentro da sabedoria popular para acabar com as enfermidades.
“O Homem da Serra” é uma das 40 histórias selecionadas pela quarta edição do Revelando os Brasis. Escrita por Luiz Torres Cacau, do município paraibano de Vieirópolis, a história tomou forma através das imagens captadas no período de 10 a 16 de janeiro deste ano.
Em fase de edição, o vídeo é uma ficção baseada em fatos reais, mas também trará alguns trechos em formato de documentário a partir das entrevistas feitas com os moradores. Apesar de autorizar a produção do vídeo sobre sua história, o personagem principal preferiu não participar das gravações e a comunidade ficou também receosa de dar depoimento, pois temia que isso pudesse desagradar Josemar.
O diretor convenceu o protagonista a dar um depoimento, o que derrubou os receios dos moradores, levando a população a sentir-se mais à vontade para participar da filmagem.
Preparação – A montagem da ficção trouxe um desafio diferente para o ator Luiz Cacau. Sua experiência com teatro, música e dança ganharia um novo elemento: o cinema. Na hora de montar o elenco, reuniu pessoas da região e promoveu um treinamento para formação de ator. “O resultado superou as expectativas. Houve integração da equipe e os atores locais surpreenderam”, avaliou.
Além da preparação do elenco sobre como se comportar durante a filmagem, o diretor elaborou um plano detalhado de captação das imagens ao desenhar cada cena. Assim, pretendia orientar de modo mais preciso a equipe de gravação. Luiz conta que aprendeu a técnica na oficina audiovisual oferecida pelo projeto Revelando os Brasis, no Rio de Janeiro, no ano passado. E colocou em prática o aprendizado.
A linguagem e as técnicas audiovisuais entusiasmaram o diretor. “Nos últimos anos, eu me dediquei ao trabalho de encenação no teatro. Agora, fui contagiado pela magia do cinema, pelo desafio de montar as imagens para que se possa contar uma história. Uma coisa é o ator dá vida ao personagem, a outra é fazer isso rompendo a frieza da câmera”, avalia o diretor.
De acordo com Luiz Cacau, ao contar a história, a intenção é documentar a vida de um homem comum, mostrar a harmonia homem natureza e inventariar – através de imagens – a região serrana do sertão da Paraíba, o seu povo e sua fé.
O diretor – Luiz Torres Cacau tem vasta experiência com as artes: em 1980, fundou um grupo de teatro sob a sombra da ditadura militar, chamado Oficina, em homenagem ao grupo de Zé Celso. Até hoje trabalha com teatro, música e dança para crianças e adolescentes, além de ter um programa temático na rádio da região onde mora. Em Vieirópolis, comanda o grupo de teatro Didi e Lulu, além de ser o diretor de cultura da cidade. Já conhece o Revelando os Brasis há algum tempo, através de outros três projetos da região que foram contemplados em edições anteriores. Além de sua história, ajudou no desenvolvimento de outros dois textos, que não foram selecionados.