O vídeo “O Mito Nativo do Arco-Íris” está na etapa de finalização, mas quem participou das gravações, conduzidas pela diretora Nívia Lacerda da Silva, guardou lembranças de mistério e encantamento. Durante as filmagens, realizadas em dezembro, os desafios também receberam soluções inesperadas para revelar uma antiga crença dos idosos do Vale do Capão, distrito de Palmeiras, na Bahia.

A história foi selecionada pela quarta edição do Revelando os Brasis. Baseada em fatos reais, a ficção conta como os moradores mais antigos da região acreditam ser o aparecimento do arco-íris na direção do cemitério um presságio de morte de membro da comunidade. O roteiro conta a angústia vivida por algumas senhoras nativas que se deparam, numa manhã, com um arco-íris na direção do cemitério.

Ao mesmo tempo em que mostra o temor dos moradores locais diante de suas crenças, o filme revela outros significados para a existência humana, como aquele que caracteriza a morte como o nascimento de um novo ciclo, uma mudança de estado.

Gravação – Bastou começar a gravar para que as equipes de produção e de filmagem ganhassem um apoio inesperado para os desafios. Um deles foi achar no meio do mato um cajado de madeira, encerrando os esforços fracassados dos produtores de encontrar uma muleta para uma das cenas. O mais inesperado ainda foi o trovão enviado pelos céus no instante preciso em que uma das personagens cai morta no chão. “A natureza se encarregou de oferecer o som da trovoada para dar mais autenticidade à cena”, conta a diretora.

Nívia relata ainda como o roteiro, aos poucos, se transformou diante dos novos caminhos apontados pelas gravações. “Os personagens nativos cresceram tanto dentro da história por causa da brilhante atuação dos atores locais que acabaram conquistando um espaço maior no filme”, destaca.

O Vale do Capão, onde se passa a história, é uma região turística que atrai mochileiros e turistas em busca das cachoeiras, nascentes e trilhas de acesso ao Parque Nacional da Chapada Diamantina. No distrito vive uma população de cerca de 1.500 habitantes. Com a realização do filme, a diretora pretende valorizar as crenças vivenciadas pelos mais antigos, mas desconhecidas para a maior parte das pessoas que vivem na região. Atraída por mitos, Nívia misturou ainda à história outros elementos como o significado dado ao arco-íris pela mitologia grega. Para os gregos, a deusa Íris lançava o arco para descer à terra com mensagens dos deuses para os homens.

Ao avaliar sua experiência como realizadora audiovisual proporcionada pelo projeto, Nívia destaca: “Você faz uma história, a transforma em diálogos e imagens, mas ao captar as cenas o roteiro ganha corpo como uma criança que, depois de concebida, começa a adquirir vida própria para seguir o seu rumo ou o seu destino. É maravilhoso como o processo criativo se transforma”.

A diretora– Bacharel em Direito e com experiência técnica em fotografia, Nívia conhece o Revelando os Brasis desde a primeira edição, mas até há pouco tempo morava em Salvador, o que a impedia de se inscrever. Depois da mudança para Palmeiras, viu a oportunidade de contar sua história. Mas só resolveu de fato fazer sua inscrição ao acompanhar seu jardineiro, que também se inscreveu no concurso. A ideia para seu vídeo veio de uma história

que ouviu de uma senhora bastante idosa. Nívia queria fazer o filme de qualquer maneira, cogitando inclusive captá-lo com uma pequena filmadora caseira. Com a seleção para o Revelando os Brasis, porém, ficou animada com a possibilidade de fazer o filme em melhores condições.