O mundo segue sempre inventando novas máquinas. As que chegam substituem as que existem trazendo benefícios para a humanidade. Inovações enterram velhos hábitos, criam novos comportamentos e necessidades. Apesar do avanço tecnológico permanente, algumas invenções se misturam tanto com as pessoas que parecem feitas de carne e osso. Assim é o rádio. Carregado de sentimentos, este veículo de comunicação chegou às casas nas primeiras décadas do século XX com atributos marcantes: presença quente, constante e próxima. Não é difícil entender que, em alguns lugares, onde o apego ao velho jeito de viver, o rádio seja um membro da família e mantenha a majestade na vida das pessoas, mesmo após tantas criações como a televisão e a internet. Na pequena cidade de Aparecida, na Paraíba, o rádio ainda é o canal de comunicação preferido dos mais antigos.
Quem conta a história é a estudante de Jornalismo, Mikaely de Sousa Batista, moradora do município, selecionada pela quinta edição do Revelando os Brasis. As cenas do documentário foram gravadas na primeira semana de 2015. Mikaely é uma das moradoras de pequenas cidades com até 20 mil habitantes selecionadas pelo Concurso Nacional de Histórias do Revelando os Brasis – Ano V, primeira etapa do projeto. Após terem suas histórias escolhidas, os autores foram para o Rio de Janeiro a fim de estudar noções sobre roteiro, produção, direção, fotografia, direção de arte, som, dentre outras matérias, na fase de formação da iniciativa. Com duração de 15 dias, as Oficinas Audiovisuais, realizadas em 2014, prepararam os autores para transformar a história em filme durante a etapa de gravação. O Revelando os Brasis promove a democratização do acesso aos meios de produção audiovisual, oferecendo aos moradores das pequenas cidades com até 20 mil habitantes a possibilidade de contar suas próprias histórias através do cinema. Trata-se de um instrumento de registro da memória e da diversidade cultural do país e revela novos olhares sobre o Brasil. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet. A ideia de contar uma história a partir das emoções despertadas pelo rádio surgiu a partir do olhar da autora para a realidade de muitos idosos de Aparecida, município localizado no Alto Sertão da Paraíba e composto por 8.174 habitantes, conforme estimativa de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Muitos idosos se prendem ainda ao rádio. E mesmo sendo um veículo velho, ele tem o espírito novo. O filme pretende fazer uma exaltação ao rádio que não se perdeu ao longo do tempo apesar das novas tecnologias”, explica a diretora, estudante de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). De temperamento dinâmico e empreendedor, Mikaely costuma se dividir em diferentes atividades e tarefas, o que lhe capacitou para enfrentar vários desafios nas áreas de produção e comunicação. Já atuou como assistente executiva, diretora de produção e produtora executiva de várias obras audiovisuais. Integrou a equipe de produção em curtas-metragens como “Maria do Caixão”, “Arrumando as Malas”, “Ricardo, um Grande Homem”, “A Alma das Ruas” e “Lourdes Ramalho: um conto contado por Ela”. Também trabalhou na produção e na assessoria de imprensa do Festival Audiovisual Comunicurtas, criado e coordenado por um dos selecionados na segunda edição do Revelando os Brasis, André da Costa Pinto, de Barra de São Miguel, na Paraíba. André é um dos incentivadores de Mikaely, deu os primeiros passos na carreira do cinema durante o projeto e nunca mais saiu da estrada audiovisual. Depois do primeiro trabalho, o paraibano dirigiu vários curtas, incluindo “Amanda e Monick”, ganhador de prêmios nacionais de melhor filme nos principais festivais de cinema do país.Produziu, ainda, cerca de 32 curtas e já acumula a realização de três longas-metragens: “Tudo o Que Deus Criou”, “Madame” e “O Tempo Feliz que Passou” (em fase de pós-produção/edição). Também fundou junto a outros colegas uma ONG chamada Moinho de Cinema da Paraíba.André ministrou aulas no Curso de Comunicação Social da UEPB, onde coordenou o curso de Extensão em Produção de Documentários, cuja base é inspirada no trabalho de oficinas do Revelando os Brasis. “Fui muito estimulada pelo André que ministrou oficinas para ensinar a escrever uma boa história”, conta a diretora, apaixonada por cinema e jornalismo. “Eu sou uma sonhadora mas sei o momento de colocar os pés no chão e partir para a realidade. Quero trabalhar, porém, pretendo continuar buscando tudo o que posso na área acadêmica, como fazer um mestrado”, declara Mikaely. Inspirada pela busca de conhecimento, a diretora encontrou na quinta edição uma oportunidade de valorizar sua comunidade e seu município. “Com a realização do filme, quero devolver para a cidade todo o apoio recebido. Quero mostrar para as pessoas que valeu a pena”, destaca a autora. Confira o depoimento da diretora, gravado durante as Oficinas Audiovisuais, no Rio de Janeiro: http://youtu.be/raXZnlm5e4I Foto de Capa: Ratão Diniz