Revelando os Brasis | RAPADURA ALEMÃ NO REVELANDO OS BRASIS

EDIÇÃO - Ano IV

RAPADURA ALEMÃ NO REVELANDO OS BRASIS

O Jornal Nacional anuncia: uma empresa estrangeira patenteou a rapadura brasileira. Assistindo ao jornal em casa, os moradores de Correntes, interior de Pernambuco – onde o processo de fabricação da rapadura é o responsável pelo sustento de famílias inteiras e uma arte passada entre gerações – se revoltam com a notícia e vão para as ruas protestar. Esse é o enredo da ficção “A Rapadura é Nossa”, da diretora Maria Filomena Camelo Vasconcelos, selecionada pela quarta edição do Revelando os Brasis.

A ficção se baseia em um fato real. Em 1998, o Jornal Nacional, da Rede Globo, anunciou que uma empresa da Alemanha tinha a patente da tradicional rapadura brasileira. Com base nessa história, Filó (como gosta de ser chamada) desenvolveu o roteiro do seu curta, que conta ainda com depoimentos de pessoas que trabalham com a fabricação da rapadura.

“A inspiração da história tem muito a ver com a minha infância, quando vivi cada manhã vendo meu pai sair para o canavial, ouvindo os gritos dos cambiteiros açoitando os burros carregados de canas para serem moídas, o som da moenda girando e fazendo o caldo, o cheiro de mel espalhado no ar, as crianças pequenas brincando na bagaceira, as corridas em zigue zague atrás das borboletas”, conta a diretora. Para ela, o avanço do tempo e da tecnologia não consegue destruir a beleza da natureza que ainda existe no recanto nordestino que é Correntes.

As Gravações – “A Rapadura é Nossa” foi quase todo gravado na zona rural do município. Apenas alguns trechos, como o protesto pela rapadura, foram feitos na cidade. De acordo com Filó, “a cena do protesto aconteceu no último dia de gravação e marcou Correntes. O maracatu, os cavaleiros, os artistas, os moradores e os agricultores se juntaram numa festa de cores, sons e ritmos. Era a cultura viva dos canaviais”.

Filó diz ainda que as gravações tiveram momentos mágicos. “Cada fim de dia era uma emoção única, contagiando todos. O vídeo é a realidade da comunidade, onde os figurantes são autores da própria história”.

Mais de vinte depoimentos foram colhidos para o vídeo, que foi gravado durante uma semana, no mês de janeiro. O primeiro dia das gravações foi dedicado à captação de imagens da produção da rapadura. A equipe acompanhou os trabalhadores que começam a trabalhar de madrugada, amanhecendo dentro do engenho. Foram feitas imagens também na subida da serra, o que proporcionou belos planos gerais, simulando uma vista aérea do Engenho Gravatá.

A diretora conta que os moradores do engenho participaram ativamente das gravações, com a equipe registrando o cotidiano do sítio. “A exibição da notícia da patente da rapadura, mostrada originalmente no Jornal Nacional, gerou um debate intenso na comunidade”, conta Filó.

As gravações de “A Rapadura é Nossa” contaram com o apoio da Prefeitura Municipal, da Câmara de Vereadores, da Banda de Pífanos e da Paróquia de Correntes.

Oficina – Para selecionar a equipe de produção e o elenco do vídeo, Filó realizou uma oficina em Correntes, nos dias 16, 17 e 18 de dezembro. “Dessa oficina saiu fotógrafo, artista, produtor! Foi uma revolução na cidade”, lembra. Cerca de 16 pessoas compuseram a equipe de gravação do curta.

A Diretora – Nascida na zona rural de Correntes, Maria Filomena, ou Filó, como é mais conhecida, foi para a cidade pra estudar. É professora desde os 16 anos e já teve passagem pela política local, atuando como Secretária de Educação e Cultura, além de ter sido vereadora.

Filó ficou sabendo do Revelando os Brasis através de seu cunhado, que foi selecionado para a terceira edição do projeto. Ela conta que sempre teve vontade de falar sobre a questão da rapadura e tinha como ideia inicial fazer um documentário tendo sua mãe como protagonista. Com o falecimento da mãe, acabou adaptando a história para uma ficção.

 
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