Inspirados pela tradição e a devoção, alimentados pela fé em Deus e com a intercessão dos santos, mulheres e homens ainda guardam um conhecimento passado de geração em geração, na pequena cidade de São Domingos do Azeitão, no Maranhão. A antiga manifestação cultural de curar males do corpo e da alma através de benzimentos motivou o professor universitário Reinaldo Moraes Guimarães a escrever a história “As Benzedeiras do Azeitão”, selecionada pela quinta edição do Revelando os Brasis. O diretor iniciou as filmagens do documentário na quinta-feira (19/06) e prosseguirá até sábado (21/06).
O maranhense é um dos 20 moradores de pequenas cidades com até 20 mil habitantes selecionados pelo Concurso Nacional de Histórias do Revelando os Brasis. No mês de fevereiro, eles participaram de Oficinas Audiovisuais, no Rio de Janeiro, onde estudaram com profissionais renomados do cinema noções básicas sobre roteiro, direção, produção, direção de arte, fotografia, som, direitos autorais, dentre outros conhecimentos para transformar o que contaram em filmes de curta-metragem.
O Revelando os Brasis promove a democratização do acesso aos meios de produção audiovisual, oferecendo aos moradores das pequenas cidades com até 20 mil habitantes a possibilidade de contar suas próprias histórias através do cinema. Trata-se de um instrumento de registro da memória e da diversidade cultural do país e revela novos olhares sobre o Brasil. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet.
A história – Mau olhado ou quebranto, espinhela caída, inveja, insolação, cobreiro, sapinho na boca, e mais uma infinidade de males físicos, emocionais e psicológicos pedem uma reza acompanhada de um ritual ensinado pelos mais velhos para recuperar a saúde e a proteção divina.
“O que me motiva a contar esta história é a tentativa de mostrar para São Domingos que a cidade tem uma identidade que não é percebida pela comunidade. Não percebem, não notam, não compreendem a arte de benzer e curar. Hoje existem poucos homens e mulheres que praticam o benzimento e são poucos os que se interessam em aprender. O conhecimento está nas mãos destas pessoas mais idosas”, alerta o professor universitário, que teme pelo desaparecimento desta tradição oral com a falta de interesse dos mais jovens.
O diretor –O professor universitário é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí, com pós-graduação em Gestão de Políticas de Gênero e Raça, em que defendeu o tema voltado para a negritude, mostrando a dificuldade das gerações se compreenderem como afrodescendentes. Ator e produtor cultural também tem se destacado pela execução de diferentes projetos culturais no município.
Um de seus projetos foi aprovado, no ano de 2010, pelo BNB Cultural. “Tecendo nossa História” teve por objetivo resgatar a arte das tecelãs de São Domingos do Azeitão, conhecidas como fazedeiras de rede de dormir. “É uma arte tão trabalhosa, o preço do produto no mercado é reduzido e a procura tão pequena que não desperta a atenção dos mais jovens por aprender o ofício”, explica Reinaldo, que é filho e neto de tecelãs. Diante deste cenário, ele conta, o projeto tentou estimular o interesse das novas gerações pelo aprendizado deste tipo de arte através de oficinas com duração de três meses.
Por intermédio da Lei Municipal Professor Moreira, promovida pela Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo de Floriano, no Piauí, organizou uma coletânea de artigos sobre a homoafetividade escritos por profissionais de diferentes áreas. Com 115 páginas, o livro “Sob o Colorido Céu de Floriano” foi distribuído para instituições.
“Trata-se de uma literatura nova, que choca, pois trata das relações homoafetivas. A obra contribui para levantar a discussão”, informa Reinaldo, militante do movimento LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e Transgêneros), estudioso e pesquisador da homoafetividade, religião, políticas públicas e eleitorais e dos movimentos sociais.
Em 2011, o diretor teve outro projeto aprovado, desta vez no edital promovido pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão. “Despertando a Cultura na Batida do Tambor” foi desenvolvido junto à comunidade afrodescendente de Grutinhas, remanescente de quilombo. A proposta consistiu em ocupar o tempo de crianças e adolescentes de forma criativa através do oferecimento de aulas gratuitas de percussão, dança afro e artesanato.
Antes da preparação nas Oficinas Audiovisuais do Revelando os Brasis, o diretor havia participado de um curso de vídeo e cinema, com duração de uma semana, organizado pelo Grupo Escarlate de Teatro, dentro do Pontão de Cultura Floriano, no Piauí.
“Espero produzir um documentário que possa ajudar as pessoas a se identificarem e se reconhecerem. Quero que elas se enxerguem nesta tradição que não merece desaparecer”, destaca Reinaldo. Para o professor, a participação no Revelando os Brasis pode ainda contribuir para o fortalecimento de uma outra proposta que vem sendo construída na cidade: a formação do Museu do Azeitão, um espaço de resgate da cultura local.
Confira o depoimento do diretor gravado durante as Oficinas Audiovisuais, no Rio de Janeiro: